NRBQ: Químicos Industriais Tóxicos

Ao quarto artigo dedicado ao mundo NRBQ abordamos os produtos químicos industriais de interesse militar, vulgarmente chamados de Químicos Industriais Tóxicos / QIT (“Toxic Industrial Chemicals” / TIC).

1996 | International task force 25 (itf-25)

De acordo com o relatório de 1996 “Final Report of International Task Force 25, Hazard from Toxic Industrial Chemicals” [PDF, 386 KB] a força internacional ITF-25, liderada pelas nações conhecidas por CANUKUS (Canadá, Reino Unido, Estados Unidos da América), nasceu da constatação da possibilidade do uso de cloro como arma de oportunidade contra forças militares no terreno na Bósnia.

O grupo de trabalho definiu um químico industrial tóxico (QIT) como sendo um produto químico produzido em quantidades superiores a 30 toneladas por ano, numa única instalação, e com um valor de CLt50 por inalação (em qualquer espécie de mamífero) inferior a 100.000 mg.min/m3. 1.164 produtos químicos preenchiam este requisito.

Para reduzir esta lista, a ITF-25, estabeleceu como segundo critério a volatilidade e considerou apenas os produtos que, independentemente do seu estado físico, apresentavam uma pressão de vapor elevada a 20ºC. Desta vez a lista foi reduzida para 98 químicos.

O grupo de trabalho aplicou, a estes 98 produtos químicos, uma matriz para atribuir um nível de perigosidade. Assim, foram cridas as seguintes classificações:

Perigo ElevadoHigh Hazard” | indica um QIT amplamente produzido, armazenado ou transportado, com alta toxicidade e que é facilmente vaporizado.

Perigo ModeradoMedium Hazard” | indica um QIT que pode ter uma classificação alta em algumas categorias mas menor noutras: como número de produtores, estado físico ou toxicidade.

Perigo Baixo Low Hazard” | indica um QIT que provavelmente não será um risco, a menos que factores operacionais específicos indicam o contrário.

Classificação dos QIT pela perigosidade (Alta/Moderada/Baixa)

Após a catalogação dos QIT que, no entender da ITF-25, poderiam condicionar operações militares de vário cariz (guerra/conflito, manutenção de paz, imposição de paz, apoio humanitário, contra-terrorismo, etc), chegou a vez de estabelecer distâncias de segurança aconselhadas para as operações militares.

Exemplo de distâncias de segurança para alguns QIT

Aos comandos militares foi ainda realçada a importância de “evacuar para sobreviver”, em caso de libertação, acidental ou intencional, de um QIT. Isto deve-se, ainda hoje, às limitações dos filtros militares que, embora ofereçam proteção aos agentes químicos de guerra, são limitados em relação aos QIT.

O relatório da ITF-25 conclui ainda que, para diminuir o impacto de libertações deliberadas ou acidentais de produtos químicos industriais, as forças CANUKUS devem considerar todos os factores anteriores aliando-os ao treino, preparação, previsão, detecção, proteção e contramedidas adequadas.

2003 | International task force 40 (itf-40)

Em 2003 foi apresentado o relatório da ITF-40 que visava desenvolver ferramentas apropriadas para os comandantes militares identificarem, avaliarem e controlarem os riscos de exposições causadas por liberação de QIT e ainda rever, atualizar e aprimorar a metodologia usada pelo grupo de trabalho anterior para preparar uma lista priorizada de produtos químicos industriais.

A ITF-40 criou uma base de dados com 1756 químicos usando os índices de inflamabilidade, instabilidade (anteriormente denominado reatividade) e toxicidade previstos no código 704 da National Fire Protection Association (NFPA), associando-os aos parâmetros de impacto para a missão, estado físico, número de países produtores, incidentes prévios registados e a probabilidade de exposição. Aplicando uma matriz de risco com os parâmetros anteriores, a ITF-40 conseguiu destacar, da listagem inicial, 40 QIT de elevado risco: 22 por inflamabilidade, 14 por toxicidade, 2 por instabilidade e 2 por inflamabilidade e toxicidade.

2011 | United States Naval Research Laboratory

Em 2011 o laboratório naval de investigação da marinha dos Estados Unidos da América (United States Naval Research Laboratory) emitiu um relatório [PDF, 1MB] onde identifica vários erros na matriz de risco da ITF-40.

O laboratório constatou que os dados utilizados pela ITF-40, principalmente aqueles associados ao NFPA 704, se encontravam desatualizados ou incompletos, sendo que apenas 420 das 1756 substâncias apresentavam informação completa.

Comparativo de dois QIT com os dados usados pela ITF-40 e actuais

Após identificar os erros da ITF-40 o laboratório naval de investigação (NRL) criou o seu próprio “ranking” de QIT usando uma processo de 5 etapas:

Fluxograma das etapas usadas pelo NRL

Etapa 1: criação de uma base de dados de QIT,
Etapa 2: seleção dos QIT pelo perigosidade de inalação e absorção ocular,
Etapa 3: divisão dos QIT em grupos (oxidantes, orgânicos voláteis, redutores, -icidas, que polimerizam),
Etapa 4: revisão da listagem da etapa 2 usando os dados da etapa 3,
Etapa 5: análise de sensibilidade dos resultados da priorização.

Após as cinco, etapas o top 12 de QIT com elevada prioridade por perigo de inalação/absorção ocular são os seguintes:

Com as conclusões deste estudo efectuado pelo NRL o passo seguinte foi desenvolver e testar tecnologias para protecção dos operacionais/militares contra os QIT, reduzindo significativamente o custo e o risco de tais atividades.

intervir.pt | tome parte.


One comment

  1. […] principalmente algumas infraestruturas ligadas à indústria química (com a possível presença de químicos industriais tóxicos “QIT”), sem terem sido detetadas fugas no local. Paralelamente houve necessidade de iniciar operações […]

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