Termografia e Matérias Perigosas

Algumas das conclusões do primeiro equipamento testado no projeto #FerramentaHAZMAT, a câmara térmica MSA Evolution 6000+.

O primeiro equipamento a explorar neste novo projeto da plataforma intervir.pt, o #FerramentaHAZMAT, foi uma câmara térmica (TIC) cedida pela Tecniquitel, a MSA Evolution 6000 + (Plus). O conceito deste projeto é pegar num equipamento, dentro daqueles disponibilizados para ações de proteção e socorro, e testar técnicas e procedimentos para perceber as suas aplicabilidades e limitações, partilhando estes testes com a comunidade da plataforma a fim de potenciar as ferramentas que podem vir a ser aplicadas em cenários envolvendo matérias perigosas.

Iniciando então pelo enquadramento das TIC: é importante distinguir entre as câmaras de consciência da situação e as de apoio à decisão. As primeiras destinam-se a progressões em locais de baixa visibilidade, permitindo manter a orientação espacial, revelar saídas, acompanhar o movimento de outros elementos da equipas e detetar focos de incêndio; já as de apoio à decisão, como o próprio nome indica, são para auxiliar os chefes de equipa ou comandante das operações de socorro (COS) na leitura abrangente do cenário, podendo disponibilizar informações importantíssimas que irão influenciar as ações a tomar num teatro de operações (TO). Cada uma destas TIC tem uma aplicabilidade própria e não devemos esperar que uma câmara de consciência de situação tenha o mesmo desempenho que uma de apoio à decisão, o mesmo se pode dizer em relação à gama de preços.

Exemplos de câmaras de apoio à decisão (esquerda) e de consciência da situação (direita)

É ainda importante abordar a pré configuração das TIC para uma emissividade mínima, pois é daqui que nasce um dos erros mais recorrentes do uso deste equipamento: (tentar) ler as temperaturas de objetos! De forma simples, podemos definir emissividade (e) como a capacidade de um objeto emitir radiação eletromagnética quando o comparamos com o chamado “corpo negro” para a mesma temperatura e comprimento de onda.

Erros de leitura de temperatura originados pela emissividade dos materiais.

No mercado existem TIC que permitem ajustar a emissividade, chamadas de “quantitativas”, obtendo por isso leituras mais precisas, mas normalmente estas são usadas na indústria ou medicina, já as TIC destinadas a ações de proteção e socorro são consideradas como “qualitativas”, estando pré-definidas para leituras de e>0,9. Devido a isto, estas TIC não conseguem aferir a real temperatura em superfícies com emissividade inferior, ou então mostram temperaturas refletidas, e mesmo em caso de superfícies de emissividade perto de 1 podemos obter variações superiores a 10%, o que pode dar erros extremamente perigosos quando avaliamos cenários de matérias perigosas. Assim, devemos usar as “nossas” TIC para leituras gerais do cenário, interpretando as variações que as paletas nos mostram, evitando a “tentação” de nos focarmos demasiado na temperatura no ponto central (spot temperature).

Muitos de nós, em operações de proteção e socorro, já utilizou câmaras térmicas em ações de busca e salvamento, combate a incêndios, rescaldo, entre outras… agora onde podemos usar as TIC em ocorrências envolvendo matérias perigosas? Efetivamente podemos devemos utilizar logo no reconhecimento 360º, para obter uma leitura abrangente de todo o cenário e ver coisas que possam estar dissimuladas, e ainda para aferir os níveis de preenchimento de reservatórios de líquidos e sólidos, detetar fugas ou derrames e ver as chamadas “chamas azuis”.

Utilização de TIC para aferir níveis de depósitos, progressões de derrames e chamas azuis.

Analisando as limitações deste tipo de equipamento temos de ser honestos e perceber que grande parte dos agentes de proteção civil têm câmaras de consciência de situação a (tentar) desempenhar as funções de uma TIC de apoio à decisão, isto deve-se mais pelo o custo do que por desconhecimento técnico dos elementos envolvidos na seleção e aquisição deste material, depois temos a questão da colocação deste material, quantos veículos saem dotados de TIC na primeira saída? E quando estão equipados com este tipo de câmaras, quantas vezes são usadas pelas equipas a trabalho? Era importante perceber estes números pois as TIC podem ser uma excelente ferramenta para o 1ºCOS, em diversos cenários, permitindo que este tome decisões informadas que certamente irão ajudar a resolver, ou a encaminhar a resolução, da ocorrência.

Recurso à TIC para “ler” o Teatro de Operações.

Como todos os equipamentos, as TIC requerem alguns cuidados, desde logo começando pela formação, é importante adquirir o material com formação, garantindo assim que os operacionais sabem utilizar e tirar o máximo partido da ferramenta; depois, no TO, e principalmente em progressões internas, deve-se ter atenção à velocidade como lemos (ou tentamos ler) os compartimentos e à limpeza da lente, que embacia com relativa facilidade e suja-se com os produtos da combustão, o que influencia a capacidade da TIC de ler o ambiente, então, como boa prática, deve-se limpar a zona da lente sempre que limpamos a nossa peça facial. No fim das operações também se deve ter atenção à limpeza ou descontaminação do equipamento, nem todas as TIC podem ser sujeitas a procedimentos de descontaminação, pelo que se poderá optar por uma limpeza com recurso a toalhitas humedecidas em água, por exemplo.

Estes são algumas das conclusões da utilização do primeiro equipamento disponibilizado para a #FerramentaHAZMAT, certamente poderia haver espaço para mais considerações, mas partilhando o que se vai aprendendo serve para evoluir em conjunto, obtendo mais “ferramentas” para a nossa “caixa” e assim desempenhando as nossas ações eficazmente e em segurança.

Antes de terminar, uma palavra de agradecimento à Tecniquitel que, ao mostrar abertura para participar neste projeto, cedeu os equipamentos e tornou-o real.


Para entrar em contacto com a equipa de intervir.pt por favor use o formulário disponibilizado ou envie e-mail para: intervir.pt@gmail.com.

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