Após umas semanas sem publicar artigos, voltamos com o tema prometido anteriormente: o impacto de (alguns) fenómenos meteorológicos num teatro de operações (TO) envolvendo matérias perigosas/NRBQ.
Vento
O vento é um fator meteorológico com efeitos diretos e determinantes na dispersão dos vapores emanados pelas matérias perigosas. A velocidade do vento determina a produção de turbulência mecânica, que é responsável pela dispersão local. A ausência de vento favorece a concentração de vapores, e situações de vento moderado favorecem a sua dispersão, no entanto, o vento forte pode provocar efeitos que permitem a concentração de vapores na direção dos ventos dominantes
No que respeita ao vento podemos analisar a sua direcção, indicada em oito rumos: norte (N)/ nordeste (NE)/ este (E)/ sudeste (SE)/ sul (S)/ sudoeste (SW)/ oeste (W)/ noroeste (NW), e a sua intensidade, expressa em múltiplos de 5 km/h e categorizada da seguinte forma:
- Vento fraco (inferior a 8 nós / 15 km/h),
- Vento moderado (de 8 a 19 nós / 15 a 35 km/h),
- Vento forte (de 20 a 30 nós / 36 a 55 km/h),
- Vento muito forte (de 31 a 42 nós / 56 a 75 km/h),
- Vento excepcionalmente forte (superior a 42 nós / 75 km/h).
Mangas de vento como indicadores de direção e velocidade

As mangas de vento são indicadores visuais que nos permitem mostrar a direção do vento, sendo comum a sua utilização em aeródromos, pontes, zonas industriais, entre outros locais (postos de abastecimento de veículos de gás natural, por exemplo).
Esta pode parecer uma ferramenta bastante primitiva, mas a sua interpretação pode oferecer informações de extrema importância num TO. Além de assinalar o sentido de deslocação do vento, também indicam a velocidade relativa do mesmo.

“Rule of thumb” para libertações em ambiente urbano
O Laboratório Nacional de Los Alamos (EUA) criou umas regras baseadas na experiência colhida no terreno, vulgarmente chamadas de “rule of thumb”, que procuram apresentar os padrões mais comuns de dispersão de tóxicos, no estado gasoso, em ambiente urbano.

O relatório completo, onde estas regras são apresentadas e explicadas, pode ser encontrado área dedicada a publicações aqui da plataforma.
TEMPERATURA
A temperatura intervém na química das matérias perigosas desempenhando um papel importante na sua dispersão vertical na atmosfera (ver estabilidade atmosférica).
As temperaturas elevadas favorecem a evaporação, diminuindo a persistência dos agentes no terrenos, e aumentando o perigo associada à criação de vapores, já as temperaturas baixas permitem a deposição das substâncias, aumentando a persistência dos agentes, e a contaminação no local.
ESTABILIDADE ATMOSFÉRICA
A estabilidade atmosférica determina os processos convectivos locais sendo caracterizada pelo gradiente vertical de temperatura que limita a mistura vertical de vapores se existir uma inversão térmica. A temperatura do ar tende a diminuir em altura, no entanto, em determinadas condições pode ocorrer uma inversão térmica, ou seja, pode verificar-se um aumento de temperatura, criando uma camada de ar quente que impede a concentração de vapores junto ao solo de subir e se dispersar.

A estabilidade atmosférica pode ser categorizada como instável, neutra ou estável da seguinte forma:
Instável: gradiente térmico positivo, sem inversão de temperatura (ar quente sobe, ar frio desce), ocorre normalmente em dias de céu limpo ou pouco nublado ao final do dia.
Neutro: gradiente térmico é neutro, com o ar em equilíbrio devido à temperatura se manter constante com a altitude, pode ocorrer à noite ou em dias completamente nublados e ventosos.
Estável: gradiente térmico negativo, o ar apresenta-se estável devido ao arrefecimento noturno da superfície do globo tornando-se mais frio que nas camadas superiores, ocorre normalmente em noites em noites de céu limpo.
PRECIPITAÇÃO
Designa-se por “precipitação” todo o conjunto de partículas de água, quer no estado líquido, no estado sólido ou nos dois, que caem da atmosfera e que atingem a superfície do globo. A chuva, a neve e o granizo, são portanto diferentes formas de precipitação e podem influenciar o comportamento das substâncias presentes num TO de maneira diferente.

As gotas de chuva podem solubilizar as substâncias gasosas e as partículas, provocando a sua deposição sobre o solo e outras superfícies, e/ou diluir as substâncias liquidas, aumentando a zona contaminada.
Muito mais se poderia escrever sobre a influência destes (e outros) fenómenos meteorológicos no desenrolar de operações envolvendo matérias perigosas, como tal este tema será abordado em artigos posteriores.
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