Propriedades das matérias perigosas

Nas matérias perigosas, como em tudo a que nos dedicamos, é essencial começar pela base. Por vezes, ao invés nos cingirmos à intervenção em caso de um acidente, ou em como dispor os meios no teatro de operações (duas áreas muito importantes, que irão ser abordadas noutras alturas), deve-se compreender como a substância poderá comportar-se.

Assim, conhecer as propriedades fisico-químicas das substâncias perigosas torna-se essencial para se compreender o seu comportamento após uma libertação e possiveis interações com outros produtos. Algumas das propriedades mais importantes são:

  • Estado da matéria,
  • Densidade relativa,
  • Ponto de inflamação,
  • Ponto de combustão,
  • Ponto de ignição,
  • Limite inferior de inflamabilidade/explosividade,
  • Limite superior de inflamabilidade/explosividade,
  • Ponto de fusão,
  • Ponto de ebulição,
  • Potencial de Hidrogénio (pH),
  • Pressão de vapor,
  • Densidade de vapor,
  • Solubilidade,
  • Polimerização.

Poderá consultar as definições de cada uma destas propriedades em: https://intervir.pt/materiasperigosas/propriedades-das-materias-perigosas/

Cenário

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Transporte de gasolina por estrada. (foto: REPSOL)

Para ilustrar e enquadrar a importância das propriedades de uma substância, usaremos um cenário de acidente rodoviário envolvendo uma cisterna a derramar gasolina para um lago ou curso de água.

Primeiro, alguma informação sobre a substância obtidas da ficha de segurança do produto da empresa BP e do manual Hazardous Materials for First Responders” da IFSTA:

  • Nome: Gasolina
  • N.º ONU: 1203
  • N.º Perigo: 33
  • Estado físico: líquido
  • Cor: violeta
  • Odor: gasolina (característico)
  • Ponto de inflamação: < -40ºC
  • Ponto de combustão: -40ºC a -37ºC
  • Ponto de ignição: 280ºC
  • LII / LSI: 1,4% / 7,6%
  • Pressão de vapor: 45 para 90 kPa (a 37,8ºC)
  • Densidade de vapor: >1
  • Densidade relativa: 0,6 a 0,8 (a 15ºC)
  • Solubilidade em água: negligenciável

De seguida, pegando nos dados acima explanados (que podem ser obtidos, por exemplo, na ficha de dados de segurança da gasolina), podemos seguir a seguinte corrente de raciocínio:

  1. A gasolina foi derramada sobre a água. Como se irá comportar: irá diluir-se? irá ao fundo ou flutuará? Usando os dados disponibilizados podemos verificar que a solubilidade da gasolina é negligenciável, pelo que não se diluirá, e com uma densidade inferior a 1, manter-se-á à superfície.
  2. A gasolina é um líquido muito inflamável, com um ponto de inflamação inferior a 23ºC (número de perigo 33 do ADR), por isso importa saber como se comportará em termos de emissão de vapores. A pressão de vapor da água é de 6kPa (aproximadamente, a 38ºC), a gasolina com um valor muito superior irá criar vapores inflamáveis com facilidade. Este dado, conjugado com os seus pontos de inflamação e combustão, diz-nos que estes vapores devem ser mantidos à distância de quase todas as fontes de calor.
  3. Ainda em relação aos vapores e sua perigosidade, é importante compreender como estes se irão comportar em termos de dispersão: irão subir ou manter-se-ão junto à superfície? Aqui é importante analisar a densidade de vapor, que no caso da gasolina é superior a 1, e assim verificar que os seus vapores tendem a ficar junto à superfície (assumindo que o vento é negligenciável e não existem outras perturbações).

Resumindo, e apenas utilizando as propriedades da substância, ficamos a saber que a gasolina é um líquido que não se irá diluir na água, ficando à tona desta libertando vapores facilmente inflamáveis, que se manterão junto à superfície.

Este é um exercício simples, que pode ser aplicado a várias substâncias que circulam na rodovia, na ferrovia, ou em meio marítimo. É verdade que existem publicações, como o Emergency Response Guidebook, que nos dão uma data de informações proveitosas sobre como actuar face a uma ocorrência semelhante, mas mais que fazer-por-ler deve-se compreender-para-fazer.

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